São José preserva desde a colonização, a partir de 1759, uma prática trazida pelos açorianos que fundaram a povoação: a produção de louças e de figurativos de barro. Por mais de 130 anos, diversas olarias concentram o ofício no Caminho da Ponta de Baixo, passando a tradição para as gerações seguintes praticamente com as mesmas características de trabalho feito ainda hoje no Arquipélago dos Açores. Muitas famílias josefenses tinham como única fonte de rendimento o trabalho do seu oleiro, o que possibilitou a continuidade dessa arte e expressão de cultura popular. As louças de barro de São José faziam parte do dia a dia doméstico e eram comercializadas junto a populações litorâneas de todo o estado, especialmente em Florianópolis. Com a concorrência de utensílios industrializados em ferro esmaltado, alumínio, plástico e inox, a atividade entrou em declínio.
Dentre dezenas de oleiros josefenses destaca-se Joaquim Antônio de Medeiros, que em 1918 tornou-se proprietário de olaria na Ponta de Baixo. Por volta de 1934, construiu uma grande produção, na antiga rua geral, perto da entrada sul da Ponta de Baixo e o estabelecimento se projetou, chegando aos nossos dias sempre em atividade. Destaca-se a boa cerâmica produzida ali e a edificação singela, porém elegante, instalada sobre um patamar – quase um podium – de frente para a rua e tendo mata ao fundo. A imponência se confirma pela disposição simétrica dos vãos que compõem a fachada principal, onde porta e janelas têm proporções e ritmos equilibrados, típicos da arquitetura tradicional. Em 1992, a Escola de Oleiros Joaquim Antônio de Medeiros foi fundada naquela antiga moradia para recuperar, valorizar e repassar ainda mais as técnicas dessa tradicional representação da cultura josefense, prática que se insere no rol das manifestações culturais imateriais mais expressivas do litoral de Santa Catarina.
Texto de Osni Machado e Eliane Veiga extraído do livro ‘São José – uma Cidade Imperial’, de José Cipriano da Silva (Florianópolis, 2013).