Bicas, cariocas, fontes e chafarizes são importantes obras públicas das colônias, freguesias e vilas, símbolos históricos sem os quais as cidades não sobreviveriam. O termo “carioca” se popularizou no Brasil. Remete à kara’iwa, expressão tupi-guarani que significa “casa de branco”. Também é usado por estudiosos, referindo-se a aldeias e a tribos indígenas, e ainda apelida os habitantes ou naturais do município do Rio de Janeiro.
A carioca de São José, construída em 1840 pela Câmara Municipal, foi, durante cerca de um século, a principal solução de fornecimento de água para os moradores. Caracterizava um ponto de encontro e de socialização da população e abastecia as pipas de aguadeiros, que forneciam água em suas carroças, puxadas por burro ou cavalo, pela cidade.
A “Bica da Carioca” localiza-se no Centro Histórico de São José, aos fundos e à esquerda da Igreja Matriz, junto a um pequeno lago sombreado. A nascente vem da área posterior, ocupada por densa vegetação. O terreno é murado aos fundos. Nele foi erguido o reservatório de água, com emblemática cobertura em forma de prisma, coroada por um capitel arredondado. À sua frente, amparado por uma cobertura, está um nicho protegido, ladeado por banco. Ali as pessoas colhiam uma água límpida e fresca. Em 1940, o conjunto foi reformado, sendo ampliada a área de uso das lavadeiras, construindo-se um tanque com 14 lavadores, servidos por abundante água corrente.
O ofício da lavação, atividade executada por escravas e mulheres livres em outros tempos, declinou, primeiramente com a extinção da escravatura e, posteriormente, em razão do abastecimento por água encanada e da adoção dos modernos equipamentos domésticos – as lavadoras elétricas. A partir dos anos de 1970, as tradicionais trabalhadoras lavadeiras foram deixando de usar o tanque, e o reservatório ficou sem uso, servindo apenas em ocasiões muito eventuais. Hoje resta o marco cultural, que merece preservação, visibilidade e inserção na cidade contemporânea.
Texto de Osni Machado e Eliane Veiga extraído do livro ‘São José – uma Cidade Imperial’, de José Cipriano da Silva (Florianópolis, 2013).
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